Tenho me sentido muito triste nos últimos dias. Sinto saudade da Pink (minha cachorra que partiu do hotel que estava enquanto eu viajava) e tenho vontade de sumir toda vez que lembro dela e dos nossos momentos juntas.
Ainda não consigo passear pela pracinha perto de casa, e não tive coragem de mexer nas coisinhas dela que vieram do hotel. Detesto ver o pote de ração cheio, e toda vez que vejo um cachorro na rua fico pensando se algum dia eu vou conseguir superar esse trauma e abrir meu coração para outro companheiro canino.
Percebi que todas as lágrimas derramadas ainda não foram suficientes, e talvez nunca sejam.
Um tempo atrás perguntei para a minha terapeuta se ela conseguiu superar a morte da mãe. E ela me disse algo como:
“Superar, não. Mas consegui transformar a raiva e a dor que eu sentia em saudade.”
Se teve uma coisa que eu aprendi com tudo isso, é ser controversa.
No começo, eu achava que só podia ficar triste. Triste, com raiva, frustrada. Isso. Mais nada.
Não podia ter espaço para a felicidade porque, se eu me sentisse feliz, era como se eu tivesse esquecido dela e seguido em frente. Me sentia culpada.
A felicidade vinha e era como se minha mente dissesse: “Ei, tá feliz por quê? Sua cachorra sumiu, você não tem esse direito.”
Pesado, né? Mas eu sei que esse é o tipo de discurso que permeia a mente da maioria das pessoas. E, o pior, não só nos momentos difíceis.
Quer um exemplo disso?
Quanto te dizem que você tem que comer tudo, mesmo sem vontade, porque tem gente passando fome.
É como se a gente não tivesse permissão de ser controverso, de coexistir nos nossos sentimentos.
O luto te ensina a ser controverso. É sentir saudades, mas ao mesmo tempo sentir raiva. Querer que a pessoa (ou o animal) volte e, às vezes, querer que não volte. É ficar triste e feliz ao mesmo tempo. É ser grato pelos aprendizados e também desejar que nunca tivesse acontecido.
Ser controverso é ser humano.
Mas a humanidade parece ser um recurso escasso hoje em dia.
Ouso dizer que perdemos nossa humanidade quando tentamos controlar, ignorar ou classificar nossos sentimentos.
Sentimentos são incontroláveis. Você pode ignorar ou esconder, mas não tem como evitar sentir.
Comecei o dia de hoje sentindo muita raiva, machuquei meu dedo saindo de casa, ouvi um negócio que não gostei. Fui para o pickeball, cheguei em casa e disse pro meu namorado: “É melhor nem falar comigo hoje, porque eu to p*ta.”
Ele me olhou, perguntou “o que foi” de um jeito amoroso e paciente (e talvez tenha sido esse espaço para sentir que tenha me desarmado) e eu mostrei meu dedo machucado com o band-aid cheio de sangue.
“Deixa eu dar um beijinho.”
Pronto, comecei a chorar. Chorei pelo dedinho, pelo negócio que eu não gostei e por tudo que tinha me deixado com raiva logo cedo.
Percebi que chorava de saudades da Pink também. E que eu estava precisando chorar. Tipo, muito.
Fazia um tempo que eu não permitia que as lágrimas fluíssem.
A raiva estava tentando me dizer alguma coisa. Ela é sábia, e queria me avisar que fazia muito tempo que eu não chorava.
“Água parada apodrece.” Me vem a imagem do caboclo me dizendo isso na umbanda.
Se eu não tivesse dado espaço para a raiva, talvez essas águas continuassem apodrecendo dentro de mim. Por um bom tempo.
Se a minha lição te serve de lição: se permita ser controversa, ser feliz e triste ao mesmo tempo. Dê nome aos seus sentimentos, por mais bobo e idiota que possa parecer. Chore como um bebê (bebês sabem o que fazem). Grite, se for necessário. Soque seu travesseiro até as lágrimas começarem a surgir.
Sinta, e a água parada do rio, inevitávelmente, começará a fluir.
Se lendo esse post você se lembrou de alguém especial, compartilhe. A cura é coletiva.
Você está lendo Amanda Lisboa, Arte do Cosmos
Amanda Lisboa é Arquiteta Holística, Astróloga e Artista. Através do Arte do Cosmos, compartilha insights cósmicos sobre a vida e conteúdos que te ajudam a encontrar seu lugar no mundo, e transformar sua casa em um lar para sua alma.